A celebração
O Concílio
Vaticano II determinou a reforma da Liturgia, em geral, dedicando especial
atenção à reforma da celebração da Eucaristia. O Missal Romano conheceu
recentemente a 3ª edição típica.
Será esta
última edição típica a guiar-nos neste percurso pela celebração da Eucaristia.
Dá-se especial destaque aos cânticos na apresentação dos elementos da
celebração, por motivos compreensíveis. A este respeito, convém recordar:
“– Não há
nenhuma parte da liturgia que não possa ser celebrada e realizada pela
expressão musical ou pelo menos com a presença dela.
– Sem
expressão musical não pode acontecer verdadeira liturgia, pois esta contém
elementos intrinsecamente musicais”[1].
Veremos cada
elemento da celebração, pois importa conhecer a estrutura global, mas também as
diversas partes da celebração, os seus elementos e dinamismos. Nesse sentido ia
a observação da Instrução Musicam Sacram (MS): “Não basta que um cântico
seja eucarístico; é necessário que esteja de acordo com as partes da
missa e com a festa ou tempo litúrgico” (MS 36).
Será a
Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) a guiar-nos em toda esta parte[2].
Sobre a
importância do canto na celebração eucarística, diz a IGMR (n. 39-40):
O Apóstolo
exorta os fiéis, que se reúnem à espera da vinda do Senhor, a que unam as suas
vozes para cantar salmos, hinos e cânticos espirituais (cf. Col 3, 16). O canto
é sinal de alegria do coração (cf. Actos 2, 46). Bem dizia Santo Agostinho:
“Cantar é próprio de quem ama”. E vem já de tempos antigos o provérbio: “Quem
bem canta, duas vezes reza”.
Deve ter-se,
pois, em grande apreço o canto na celebração da Missa, de acordo com a índole
dos povos e as possibilidades de cada assembleia litúrgica. Embora não seja
necessário cantar sempre, por exemplo nas Missas feriais, todos os textos que,
por si mesmos, se destinam a ser cantados, deve no entanto procurar-se com todo
o cuidado que não falte o canto dos ministros e do povo nas celebrações que se
realizam nos domingos e festas de preceito.
Na escolha
das partes que efectivamente se cantam, dê-se preferência às mais importantes,
sobretudo às que devem ser cantadas pelo sacerdote ou pelo diácono ou pelo
leitor, com resposta do povo, bem como às que pertence ao sacerdote e ao povo
proferir conjuntamente.
Estrutura da
celebração
“A Missa
consta, por assim dizer, de duas partes: a liturgia da palavra e a liturgia
eucarística. Estas duas partes, porém, estão entre si tão estreitamente ligadas
que constituem um único acto de culto. De facto, na Missa é posta a mesa, tanto
da palavra de Deus como do Corpo de Cristo, mesa em que os fiéis recebem
instrução e alimento. Há ainda determinados ritos, a abrir e a concluir a
celebração” (IGMR 28).
Ritos
iniciais
Os ritos que
precedem a liturgia da palavra – entrada, saudação, acto penitencial, Kýrie
(Senhor, tende piedade de nós), Glória e oração colecta – têm o carácter de
exórdio, introdução e preparação. É sua finalidade estabelecer a comunhão entre
os fiéis reunidos e dispô-los para ouvirem devidamente a palavra de Deus e celebrarem
dignamente a Eucaristia. (IGMR, n.º 46)
Todos os
grandes acontecimentos exigem uma preparação que tudo e todos dispõe e prepara.
É este o sentido dos Ritos Iniciais na Missa: preparam e dispõem para a
celebração; dão início à celebração, dão “o tom” (cf. IGMR 46).
Uma vez que
a assembleia é a primeira realidade litúrgica da celebração, os ritos de
entrada destinam-se a “formar” a assembleia, a comunidade celebrante (cf. IGMR
47).
Historicamente,
este momento sofreu um notável desenvolvimento. Inicialmente, não há referência
a qualquer rito de entrada, que antecedesse as leituras. Depois e
progressivamente, este momento foi enriquecido com vários elementos.
Nos Ritos
Iniciais, nem todos os elementos têm o mesmo valor e importância. Os elementos
fundamentais são: a entrada dos ministros e o cântico de entrada, a saudação e
a oração Colecta.
O primeiro
momento é a procissão de entrada e o cântico de entrada. A finalidade
deste cântico é dar início à celebração, favorecer a união dos fiéis reunidos e
introduzi-los no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e ao mesmo tempo
acompanhar a procissão de entrada do sacerdote e dos ministros (IGMR 47).
Historicamente,
o cântico de entrada foi introduzido no decurso do século V e no século VI
tinha-se já generalizado o seu uso.
Conforme a
IGMR 47, o cântico de entrada cumpre quatro funções fundamentais:
— Dar início
à celebração. O cântico de entrada é o primeiro “gesto” comum
visível da assembleia. Este cântico coloca todos e cada um em estado de
celebração, focando a atenção da assembleia em Jesus Cristo.
—
Estabelecer a união dos fiéis. A assembleia litúrgica caracteriza-se pela
diversidade, mas “mediante a união das vozes alcança-se uma mais profunda união
dos corações” (MS 5). Este cântico é sinal privilegiado do carácter comunitário
da celebração. Através dele, os fiéis tomam consciência mais plena de que são
convocados por Jesus Cristo para celebrar a fé em Deus e para O louvar. Na
diversidade da assembleia, o cântico de entrada cria unidade.
— Introduzir
no mistério do tempo litúrgico ou da festa. Se é um facto que a Liturgia celebra
e torna presente sempre todo o mistério de Cristo, cada tempo litúrgico dá uma
acentuação própria a esse mistério. Por esta razão, o cântico de entrada deve
manifestar e expressar esse tom próprio do tempo que será também o tom da
celebração. Mais genericamente, este cântico deve exprimir a alegria pascal que
cada celebração dominical da missa deve manifestar.
— Acompanhar
a procissão de entrada. Esta não é a função mais importante do cântico de
entrada. De facto, mesmo que não haja procissão de entrada, deve cantar-se este
cântico de modo a permitir aos fiéis entrar convenientemente em estado de
celebração.
Quanto à
forma:
O cântico de
entrada é executado alternadamente pela schola e pelo povo, ou por um
cantor alternando com o povo, ou por toda a assembleia em conjunto, ou somente
pela schola. Pode utilizar-se ou a antífona com o respectivo salmo que
vem no Gradual Romano ou no Gradual simples, ou outro cântico apropriado à
acção sagrada ou ao carácter do dia ou do tempo, cujo texto tenha a aprovação
da Conferência Episcopal (IGMR 48).
Segue-se a
saudação do altar, símbolo de Cristo, e da assembleia. A saudação do altar
faz-se com um beijo/ósculo e eventualmente com a incensação. A saudação da
assembleia, que se faz sobretudo com saudações bíblicas, faz sentir à
comunidade reunida a presença do Senhor. Com esta saudação e a resposta do povo
manifesta-se o mistério da Igreja reunida (IGMR 50). Pode, depois, fazer-se uma
introdução à celebração (cf. IGMR 50).
Em seguida,
o sacerdote convida ao acto penitencial, o qual, após uma breve pausa de
silêncio, é feito por toda a comunidade com uma fórmula de confissão geral e
termina com a absolvição do sacerdote; esta absolvição, porém, carece da
eficácia do sacramento da penitência (IGMR 51). O centro da celebração do
perdão não é esta preparação penitencial, mas a celebração da Eucaristia como
tal. É nas palavras da consagração que Jesus nos manifesta e concede o seu
perdão: “Este é o cálice do Meu Sangue, o Sangue da nova e eterna Aliança, que
será derramado por todos, para remissão dos pecados”. É este perdão pelo qual
damos graças na Eucaristia. “A preparação penitencial não é uma espécie de
tapete para limparmos os pés antes de entrarmos no santuário da santidade de
Deus. É, pelo contrário, e sobretudo, a acção de graças pelo perdão que
continuamente estamos a receber”[3]. Assim, no momento penitencial,
o fundamental é o reconhecimento da misericórdia de Deus, o louvor do seu amor.
Ao domingo,
principalmente no tempo pascal, em vez do costumado acto penitencial pode
fazer-se, por vezes, a bênção e a aspersão da água em memória do
baptismo (IGMR 51).
Depois do
acto penitencial, diz-se sempre o Senhor, tende piedade de nós
(Kýrie, eléison), a não ser que já tenha sido incluído no acto penitencial
(IGMR 51). Trata-se de um modelo aclamativo litânico com uma invocação
tripartida dirigida ao Senhor (Cristo), o Kyrios (e não à Santíssima
Trindade). Esta aclamação reconhece e proclama o senhorio de Cristo
ressuscitado e a sua acção salvífica manifestada na sua glorificação na cruz.
Embora inclua uma súplica de piedade, o Kyrie é sobretudo um louvor a
Cristo, vencedor do pecado e da morte.
Quanto à
forma de execução, esclarece a IGMR 51: Dado tratar-se de um canto em que os
fiéis aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia, é normalmente executado
por todos, em forma alternada entre o povo e a schola ou um cantor.
Tenha-se
presente, porém, que o Kyrie pode desempenhar também a função de acto
penitencial: Quando o Kýrie é cantado como parte do acto penitencial,
cada aclamação é precedida de um «tropo». É esse “tropo” que lhe dá o sentido
penitencial. E nesse caso, substitui a Confissão.
O Glória
é um antiquíssimo e venerável hino com que a Igreja, congregada no Espírito
Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro. Não é permitido substituir o
texto deste hino por outro [...] Canta-se ou recita-se nos domingos fora do
Advento e da Quaresma, bem como nas solenidades e festas, e em particulares
celebrações mais solenes (IGMR 53). O Glória é muito antigo (remonta ao século
II ou III) e foi introduzido na Liturgia, por volta do século VI, como cântico
de Natal, por começar com as palavras do cântico dos anjos em Belém (Lc 2, 14).
O seu uso foi-se depois estendendo a outras celebrações mais solenes e, no
século XI, já o encontramos em todos os domingos e solenidades, excepto na
Quaresma.
É começado
pelo sacerdote ou, se for oportuno, por um cantor, ou pela schola, e é
cantado ou por todos em conjunto, ou pelo povo alternando com a schola,
ou só pela schola (IGMR 53). Note-se que esta indicação das diversas
formas tem carácter gradativo.
Os ritos
iniciais têm o seu elemento mais importante na oração chamada “colecta”,
pois nela o presidente reúne, “colige”, a oração de todos numa prece comum: o
sacerdote convida o povo à oração; e todos, juntamente com ele, se recolhem uns
momentos em silêncio, a fim de tomarem consciência de que se encontram na
presença de Deus e poderem formular interiormente as suas intenções. Então o
sacerdote diz a oração que se chama «colecta», pela qual se exprime o carácter
da celebração. (IGMR 54).
A estrutura
desta oração é a seguinte:
— convite à
oração: “oremos”;
— tempo de
silêncio, durante o qual cada um formula a sua oração;
— oração
pronunciada pelo presidente, com a seguinte estrutura:
– invocação:
“Deus...”
– anamnese
ou acção de graças: “que...”
– petição:
“concedei...”
– fim da
petição: “para que…”
– afirmação
da mediação de Cristo: “Por Nosso Senhor Jesus Cristo...”
— “Amen”
final (a assembleia manifesta o seu assentimento à oração pronunciada).
Liturgia da
Palavra
A parte
principal da liturgia da palavra é constituída pelas leituras da Sagrada
Escritura com os cânticos intercalares. São seu desenvolvimento e conclusão a
homilia, a profissão de fé e a oração universal ou oração dos fiéis. Nas
leituras, comentadas pela homilia, Deus fala ao seu povo, revela-lhe o mistério
da redenção e salvação e oferece-lhe o alimento espiritual. Pela sua palavra, o
próprio Cristo está presente no meio dos fiéis. O povo faz sua esta palavra
divina com o silêncio e com os cânticos e a ela adere com a profissão de fé.
Assim alimentado, eleva a Deus as suas preces na oração universal pelas
necessidades de toda a Igreja e pela salvação do mundo inteiro. (IGMR, n.º 55)
A Liturgia
da Palavra juntamente com a Liturgia Eucarística constituem as duas grandes
partes de toda a celebração da Missa. A Liturgia da Palavra não deve ser vista
apenas como uma preparação para a Liturgia Eucarística. O Vaticano II põe em
destaque a importância da Palavra de Deus: “A Igreja venerou sempre as divinas
Escrituras, como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais,
sobretudo na Sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida,
quer na mesa da Palavra de Deus, quer no Corpo de Cristo” (DV 21).
Na Liturgia
da Palavra os fiéis são convidados a ouvir a proclamação da Palavra de Deus, a
responder a essa Palavra no Salmo, a actualizá-la na homilia e a rezar pela
Igreja e pelo mundo. Em algumas celebrações, os fiéis proclamam a sua fé no
Credo. São elementos fundamentais da liturgia da Palavra:
- as
Leituras e respectivas aclamações;
- o Salmo
Responsorial;
- a Homilia;
- a Oração
Universal.
Tal como o
próprio nome indica, são as leituras e cânticos da Sagrada Escritura que dão
forma e constituem o essencial desta parte da celebração (IGMR 55).
Leituras
bíblicas
Nas leituras
põe-se aos fiéis a mesa da palavra de Deus e abrem-se-lhes os tesouros da
Bíblia. Convém, por isso, observar uma disposição das leituras bíblicas que
ilustre a unidade de ambos os Testamentos e da história da salvação; não é
lícito substituir as leituras e o salmo responsorial, que contêm a palavra de
Deus, por outros textos não bíblicos. (IGMR 57)
É a
proclamação do texto do Evangelho que está no centro da Liturgia da Palavra: A leitura
do Evangelho constitui o ponto culminante da liturgia da palavra. Deve ser-lhe
atribuída a maior veneração. Assim o mostra a própria Liturgia, distinguindo
esta leitura das outras com honras especiais, quer por parte do ministro
encarregado de a anunciar e pela bênção e oração com que se prepara para o
fazer, quer por parte dos fiéis que, com as suas aclamações, reconhecem e
confessam que é Cristo presente no meio deles quem lhes fala, e, por isso,
escutam a leitura de pé; quer ainda pelos sinais de veneração ao próprio
Evangeliário. (IGMR 60).
Note-se que
também as leituras podem ser cantadas (no Missal Romano, apresenta-se a melodia
para as leituras). Contudo, tenha-se sempre presente que o centro da Liturgia
da Palavra é a proclamação do Evangelho, o que significa que não se deverá dar
maior destaque às restantes leituras do que ao Evangelho.
Segundo a
tradição, a função de proferir as leituras não é presidencial, mas sim
ministerial. Por isso as leituras são proclamadas por um leitor, mas o Evangelho
é anunciado pelo diácono ou por outro sacerdote. (…) Depois de cada leitura,
aquele que a lê profere a aclamação; ao responder-lhe, o povo reunido presta
homenagem à palavra de Deus, recebida com fé e espírito agradecido. (IGMR 59)
Salmo
responsorial
A primeira
leitura é seguida do salmo responsorial, que é parte integrante da liturgia da
palavra e tem, por si mesmo, grande importância litúrgica e pastoral, pois
favorece a meditação da Palavra de Deus.
O salmo
responsorial corresponde a cada leitura e habitualmente toma-se do Leccionário.
Convém que o
salmo responsorial seja cantado, pelo menos no que se refere à resposta do povo
[...] Se o salmo não puder ser cantado, recita-se do modo mais indicado para
favorecer a meditação da palavra de Deus. (IGMR 61)
Os Salmos
são, na Bíblia, a reacção do povo judeu à acção salvífica de Deus. Sob o ponto
de vista histórico, sabemos que o Saltério foi inicialmente usado no Templo de
Jerusalém e nas sinagogas. No Novo Testamento, encontramos muitas citações,
referências e alusões aos Salmos. Nos 3 primeiros séculos, a Igreja cantou
sobretudo hinos cristãos, mas usava já os Salmos. Entre os séculos IV e V, o
Salmo começa a ganhar o sentido de resposta da assembleia. No século VI
assiste-se ao declínio do canto do Salmo. A reforma litúrgica do Vaticano II
restaurou a prática do Salmo Responsorial como um dos principais cânticos da
assembleia. Não é uma leitura; é a proclamação cantada da Palavra de Deus,
assumida como resposta da assembleia à 1ª leitura.
O Salmo tem
uma natureza intrinsecamente musical, pois foi composto para ser cantado com o
acompanhamento de instrumentos de corda. Um Salmo apenas recitado será sempre
uma forma “mutilada” de Salmo, limitada na sua capacidade expressiva porque lhe
falta um elemento estrutural básico: a música.
Intimamente
ligado à 1ª leitura, o Salmo não só não é substituível por qualquer outro
cântico, mas também é o cântico mais importante de toda a Liturgia da Palavra.
Aclamação ao
Evangelho
Depois da
leitura, que precede imediatamente o Evangelho, canta-se o Aleluia ou outro
cântico, indicado pelas rubricas, conforme o tempo litúrgico. Deste modo a
aclamação constitui um rito ou um acto com valor por si próprio, pelo qual a
assembleia dos fiéis acolhe e saúda o Senhor, que lhe vai falar no Evangelho, e
professa a sua fé por meio do canto. É cantada por todos de pé, iniciada pela schola
ou por um cantor, e pode-se repetir, se for conveniente; mas o versículo é
cantado pela schola ou pelo cantor. (IGMR 62)
Esta
aclamação surge como um grito de louvor de quem se sente tocado pela Palavra de
Deus. O grito Aleluia é uma forma aclamativa que permite à assembleia
expressar a sua alegria pela presença viva de Jesus no Evangelho. É uma
aclamação tipicamente pascal: é o acontecimento pascal de Jesus Cristo que dá
sentido pleno à palavra Aleluia.
A aclamação
exige linguagem musical e deveria ser sempre cantada. Precisamente pelo seu
carácter de aclamação, que se destina a ser cantada, o Aleluia ou o versículo
antes do Evangelho, se não são cantados, podem omitir-se (IGMR 63c).
Homilia
Um elemento
importante de qualquer celebração litúrgica, estreitamente unida às leituras, é
a homilia. A homilia é uma pregação, mas uma pregação litúrgica (pois há outros
tipos de pregação, que são necessariamente diferentes: pregação missionária,
pregação catequética, retiro...), que recebe o seu sentido e a sua
peculiaridade de todo o contexto celebrativo. Nos domingos e festas de
preceito, deve haver homilia em todas as Missas celebradas com participação do
povo, e não pode omitir-se senão por causa grave. Além disso, é recomendada,
particularmente nos dias feriais do Advento, Quaresma e Tempo Pascal, e também
noutras festas e ocasiões em que é maior a afluência do povo à Igreja (IGMR
66).
Profissão de
fé
O símbolo,
ou profissão de fé, tem como finalidade permitir que todo o povo reunido,
responda à palavra de Deus anunciada nas leituras da sagrada Escritura e
exposta na homilia, e que, proclamando a regra da fé, segundo a fórmula
aprovada para o uso litúrgico, recorde e professe os grandes mistérios da fé,
antes de começarem a ser celebrados na Eucaristia. (IGMR 67)
O símbolo
deve ser cantado ou recitado pelo sacerdote juntamente com o povo, nos domingos
e nas solenidades. Pode também dizer-se em celebrações especiais mais solenes.
Se é cantado, é começado pelo sacerdote ou, se for o caso, por um cantor, ou
pela schola; cantam-no todos em conjunto ou o povo alternando com a schola.
Se não é cantado, deve ser recitado conjuntamente por todos ou por dois coros
alternadamente. (IGMR 68)
O costume de
cantar o Credo na Missa vem já do século V. Uma vez que não é nem um hino nem
uma aclamação, mas uma profissão de fé, não exige necessariamente o canto. No
que diz respeito aos intervenientes, a assembleia deve ter sempre um papel
activo no canto. A profissão de fé é um momento de comunhão na fé da assembleia
reunida e deve, por isso, contar com a participação da assembleia (cf. MS 34).
Oração
universal
“Pelo nome
de «Oração Universal» ou «dos Fiéis» designa-se a súplica ou intercessão
dirigida a Deus pela assembleia dos fiéis enquanto tal, [...] na qual se fazem
preces pelas várias necessidades da Igreja, principalmente da Igreja Universal
e de todo o mundo” (do Proémio nº 1 em Oração Universal, Comissão
Episcopal de Liturgia, Coimbra, 1997, 10).
Convém que
em todas as Missas com participação do povo se faça esta oração, na qual se
pede pela santa Igreja, pelos governantes, pelos que se encontram em necessidade,
por todos os homens em geral e pela salvação do mundo inteiro. (IGMR 69)
São
normalmente quatro os grupos de intenções da Oração Universal (IGMR 70):
- pelas
necessidades da Igreja
- pelas
autoridades civis e pela salvação do mundo
- por aqueles
que sofrem necessidade
- pela
comunidade local.
Esta oração,
que pertence à estrutura fundamental da Liturgia da Palavra, foi abandonada em
finais do século VI e só foi restaurada pelo Vaticano II.
Sem dúvida
que a Oração Universal ganha em relevo se for cantada (se não as intenções,
pelo menos as respostas da assembleia). A participação da assembleia é
fundamental. É que, de facto, a resposta da assembleia (por simples que seja) é
a verdadeira oração que os fiéis dirigem a Deus: o presidente convida à oração;
as intenções são motivos para a oração; a oração conclusiva é o colocar nas
mãos de Deus a oração da assembleia; é a resposta desta que faz desta oração,
Oração dos Fiéis. Também por isso, deve ser esta resposta a merecer uma maior
atenção e relevo, pelo canto.
Liturgia
eucarística
Na última
Ceia, Cristo instituiu o sacrifício e banquete pascal, por meio do qual, todas
as vezes que o sacerdote, representando a Cristo Senhor, faz o mesmo que o
Senhor fez e mandou aos discípulos que fizessem em sua memória, se torna
continuamente presente o sacrifício da cruz. Cristo tomou o pão e o cálice,
pronunciou a acção de graças, partiu o pão e deu-o aos seus discípulos,
dizendo: «Tomai, comei, bebei: isto é o meu Corpo; este é o cálice do meu
Sangue. Fazei isto em memória de Mim». Foi a partir destas palavras e gestos de
Cristo que a Igreja ordenou toda a celebração da liturgia eucarística.
Efectivamente:
1) Na
preparação dos dons, levam-se ao altar o pão e o vinho com água, isto é, os
mesmos elementos que Cristo tomou em suas mãos.
2) Na Oração
eucarística, dão-se graças a Deus por toda a obra da salvação, e as oblatas
convertem-se no Corpo e Sangue de Cristo.
3) Pela
fracção do pão e pela Comunhão, os fiéis, embora muitos, recebem, de um só pão,
o Corpo e Sangue do Senhor, do mesmo modo que os Apóstolos o receberam das mãos
do próprio Cristo. (IGMR, n.º 72)
A Liturgia
Eucarística é o centro de toda a celebração da Missa e a parte ritual que lhe é
característica (uma vez que a Liturgia da Palavra está presente também nas
outras celebrações litúrgicas).
A Preparação
dos Dons foi a parte da celebração, juntamente com os ritos iniciais, mais
sujeita a adições e desenvolvimentos. Desde finais do século II há indicações
de que os fiéis traziam não apenas pão e vinho para a Eucaristia, mas toda a
espécie de ofertas para as necessidades da Igreja e dos pobres. Ao longo do
tempo, este momento foi sendo enriquecido por um conjunto de orações, que
antecipavam a Oração Eucarística e exprimiam a atitude de oferta a Deus (daí o
nome de «ofertório» dado a este momento). A partir do século IX, este momento,
começou a sobrecarregar-se de orações privadas do sacerdote de carácter
penitencial. A reforma veio retirá-las. É este rito que dá início à Liturgia
eucarística. O centro da acção litúrgica passa do Ambão e do lugar do
presidente para o Altar.
Os elementos
(cf. IGMR 73-77):
- Preparação
do altar e Apresentação dos dons
- “Lavabo”
- Oração
sobre as oblatas ou sobre os dons
A iniciar a
liturgia eucarística, levam-se para o altar os dons, que se vão converter no
Corpo e Sangue de Cristo. Em primeiro lugar prepara-se o altar ou mesa do
Senhor, que é o centro de toda a liturgia eucarística (…) Em seguida são
trazidas as oferendas. (…) Além do pão e do vinho, são permitidas ofertas em dinheiro
e outros dons, destinados aos pobres ou à Igreja, e tanto podem ser trazidos
pelos fiéis como recolhidos dentro da Igreja. Estes dons serão dispostos em
lugar conveniente, fora da mesa eucarística. (IGMR 73)
Também este
momento celebrativo prevê o canto: A procissão em que se levam os dons é
acompanhada do cântico do ofertório (cf. n. 37, b), que se prolonga pelo menos
até que os dons tenham sido depostos sobre o altar. (…) O rito do ofertório
pode ser sempre acompanhado de canto (IGMR 74).
Oração
Eucarística
A Oração
Eucarística é o núcleo fundamental da celebração da Missa: Inicia-se então o
momento central e culminante de toda a celebração, a Oração eucarística, que é
uma oração de acção de graças e de consagração (IGMR 78).
No Oriente
cristão, as Anáforas são muito numerosas, mas no Ocidente cristão, ao longo de
muitos séculos, usou-se apenas uma Oração Eucarística: o Cânon Romano. A
reforma litúrgica do Vaticano II, porém, enriqueceu o Missal com mais 3
formulários que podem usar-se habitualmente:
- Oração
Eucarística I (Cânon Romano)
- Oração
Eucarística II (baseada na Tradição Apostólica)
- Oração
Eucarística III (composição nova)
- Oração
Eucarística IV (baseada na anáfora alexandrina de S. Basílio)
Além destas
já mencionadas quatro Orações eucarísticas, o Missal apresenta ainda: a Oração
eucarística V (com quatro formulários alternativos); duas Orações eucarísticas
de Missas da Reconciliação; e três Orações eucarísticas para as Missas com
crianças (que segundo a edição revista da última edição típica deverão ser
publicadas como suplemento ao Missal).
Embora a
oração seja dirigida pelo presidente a Deus Pai, aquele fá-lo em nome de toda a
assembleia. Daí o uso do plural em toda a Oração Eucarística (excepto no Relato
da Instituição, precisamente por ser um relato da acção de Jesus Cristo...). O
presidente não “fala” em nome próprio, mas em nome de toda a assembleia
reunida. Por isso, a participação da assembleia é fundamental. Nesse sentido,
têm um papel especial as aclamações da assembleia, através das quais a
assembleia dá o seu assentimento, confirma e reforça o que o presidente realiza
em seu nome.
Diálogo
inicial – Prefácio – Santo (Sanctus) – post-Sanctus
O primeiro
bloco é constituído pelo diálogo inicial, prefácio, Sanctus e post-Sanctus.
Todo este momento é caracterizado pela acção de graças, pelo louvor, à volta de
dois temas fundamentais: a criação e a redenção. Nas anáforas mais antigas de
tipo antioqueno (sírio ocidental), a acção de graças pela criação encontra-se
no prefácio, antes do Sanctus, enquanto a acção de graças pela obra da
redenção se encontra nos post-sanctus. Pertence a este tipo de anáforas
a anáfora alexandrina de S. Basílio, que esteve na base da elaboração da actual
OE IV do Missal Romano.
Diálogo
inicial
O diálogo é
o início invariável das Orações eucarísticas. O testemunho mais antigo do uso
cristão deste diálogo encontra-se na Tradição Apostólica: “[Bispo] O
Senhor esteja convosco. Todos respondem: E com o teu espírito. Corações ao
alto. Já os elevámos ao Senhor. Dêmos graças ao Senhor. É digno e justo”
(Hipólito de Roma, Tradição Apostólica, 4: Antologia Litúrgica [AL],
778). Por volta de 252, Cipriano de Cartago testemunha e confirma tal prática:
“Antes da Oração, o sacerdote, com um breve prefácio[4], prepara os
espíritos dos irmãos, dizendo: Sursum corda, para que, quando o povo
responde: Habemus ad Dominum, ele se lembre que só deve pensar no
Senhor” (Cipriano, A Oração dominical, 31: AL 998).
A função
deste diálogo é a de estabelecer a relação cultual entre a assembleia e Deus,
pondo os membros da assembleia em tensão de mente e coração para Deus. Durante
toda a Oração Eucarística, toda a assembleia deverá manter essa tensão de
coração.
O Senhor
esteja convosco. / E com o teu espírito [Ele está no meio de nós]
Este
primeiro membro consiste numa saudação (“O Senhor esteja convosco”), seguida da
consequente resposta da assembleia. Esta saudação não é exclusiva deste
diálogo: abre a celebração, precede a proclamação do Evangelho e a bênção
final. Aparece, pois, 4 vezes no decorrer de cada celebração.
Corações ao
alto. / O nosso coração está em Deus.
O segundo
membro do diálogo consiste no convite à elevação dos corações. Não existe um
paralelo exacto deste convite nas orações judaicas, mas é da tradição judaica
que vem tal convite: da noção teológica de “tensão do coração” (Kawwanat),
sem a qual não é possível a oração. Esta noção implica a disposição, a
concentração e a direcção do indivíduo para Deus, no decorrer da oração. Nesse
sentido se exprime um provérbio popular judaico, segundo o qual “uma oração sem
«tensão do coração» (Kawwanat) é como um corpo sem alma”. “Corações ao
alto” é um convite a uma atitude corporal e sobretudo espiritual: de pé, manter
o coração em tensão para Deus. Exprime conversão para Deus, confirmada pela
resposta da assembleia: “O nosso coração está em Deus”.
Dêmos graças
ao Senhor, nosso Deus. / É digno e justo [É nosso dever, é nossa
salvação]
O terceiro
membro do diálogo é constituído pelo convite à acção de graças (“Dêmos graças”
= gratias agamus = eucaristhsomen). Neste último membro do diálogo temos
o programa a realizar na Oração eucarística, a saber: dar graças – “Dêmos
graças ao Senhor, nosso Deus” –. A assembleia manifesta o seu acordo e assume
como seu este programa: “É nosso dever, é nossa salvação” [“É digno e justo”].
Também aqui a versão portuguesa se afasta da letra do texto latino, mas
respeitando o espírito.
Prefácio
Convém notar
uma diferença entre o Oriente e o Ocidente no uso dos Prefácios: enquanto no
Oriente os Prefácios são invariáveis (cada Anáfora tem um e sempre o mesmo
Prefácio), na tradição ocidental, o Prefácio é um elemento variável. O actual
Missal apresenta quase uma centena de Prefácios diferentes. O grande número de
Prefácios com que está enriquecido o Missal Romano tem como finalidade que os
temas da acção de graças da Oração eucarística brilhem mais plenamente e pôr em
relevo os vários aspectos do mistério da salvação (IGMR 364).
A oração eucarística
inicia com o louvor e acção de graças: o Prefácio, no qual a comunidade dá
graças pelas maravilhas realizadas por Deus em favor do seu povo, mas de modo
especial pela maior dessas “maravilhas”, que é o mistério pascal de Jesus
Cristo. Em nome de todo o povo santo, o sacerdote glorifica a Deus Pai e dá-Lhe
graças por toda a obra da salvação ou por algum dos seus aspectos particulares,
conforme o dia, a festa ou o tempo litúrgico. (IGMR 79 a)
Consciente
da incapacidade de louvar a Deus come deveria, a comunidade pede aos anjos e
santos que juntem a sua às nossas vozes, nesse louvor, introduzindo o canto da
aclamação: o Santo (Sanctus).
Santo (Sanctus)
Fazendo
parte integrante do momento mais alto da Missa, o Santo é a grande aclamação
laudativa ao Senhor Deus do Universo. É uma aclamação de todo o povo depois da
acção de graças e glória a Deus por toda a obra da Salvação, manifestada pelo
presidente em nome de toda a assembleia. Esta aclamação é das mais importantes
e fundamentais. Foi introduzida cedo na Liturgia. Baseia-se na visão de Isaías
(Is 6, 2ss; cf. Ap 4, 8; Mt 21, 9; Mc 11, 10).
O Santo é
uma aclamação que se destina a ser cantada e que deve sê-lo sempre.
A
participação da assembleia no Santo era evidente na Antiguidade cristã e assim
permaneceu no Oriente. Contudo, no Ocidente, entre os finais do século VII e o
princípio do Século VIII, o Santo era apenas cantado por um grupo de clérigos,
em algumas celebrações festivas. O desenvolvimento de peças polifónicas veio
retirar definitivamente o Santo da voz da assembleia. Num momento em que, em
nome da assembleia, o presidente proclama esta grande acção de graças, as
aclamações são uma oportunidade insubstituível da assembleia tomar activamente
e por si própria «a palavra», no sentido de confirmar, reforçar e dar o seu
assentimento àquilo que é realizado em seu nome. Por este motivo, a assembleia
deve necessariamente intervir activa e intensamente nos vários momentos
aclamativos da Oração Eucarística de que o Santo faz parte. Esta aclamação
constitui por si um momento ritual onde o papel do canto da assembleia não é
substituível. A IGMR 79 b afirma: Esta aclamação (…) é proferida por todo o
povo juntamente com o sacerdote.
Segue-se o post-Sanctus,
com a ampliação do tema da santidade divina, que prolonga o “Santo” e introduz
a invocação da vinda do Espírito Santo (“Epiclese). Pode ser uma breve
transição (como acontece na OE II) ou pode ser uma continuação desenvolvida do
louvor e acção de graças (como na OE IV).
Epiclese. A Epiclese
consta de invocações especiais, pelas quais a Igreja implora o poder do
Espírito Santo, para que os dons oferecidos pelos homens sejam consagrados,
isto é, se convertam no Corpo e Sangue de Cristo; e para que a hóstia
imaculada, que vai ser recebida na Comunhão, opere a salvação daqueles que dela
vão participar (IGMR 79c). A Epiclese é dupla: sobre os dons e sobre a
assembleia. É por acção do Espírito Santo que Cristo se torna presente, pela
transformação dos dons do pão e do vinho no seu corpo e sangue. É também o
Espírito Santo que é invocado sobre a assembleia reunida, para que se viva a
comunhão/unidade celebrada na Eucaristia. “O Espírito, invocado pelo celebrante
sobre os dons do pão e do vinho colocados sobre o altar, é o mesmo que reúne os
fiéis «num só corpo», tornando-os uma oferta espiritual agradável ao Pai”
(BENTO XVI, «Sacramento da caridade», n. 13).
Depois da 1ª
Epiclese, segue-se a Narração da Instituição e Consagração: mediante as
palavras e gestos de Cristo, realiza-se o sacrifício que o próprio Cristo instituiu
na última Ceia, quando ofereceu o seu Corpo e Sangue sob as espécies do pão e
do vinho e os deu a comer e a beber aos Apóstolos, ao mesmo tempo que lhes
confiou o mandato de perpetuar este mistério (IGMR 79d). Note-se porém que é
toda a OE que é descrita como “oração de acção de graças e de consagração” (n.
78). Haveria, portanto, que afirmar que quer o relato da instituição, quer a
invocação do Espírito Santo devem ser consideradas as palavras eficazes que
constituem, juntamente com o gesto simbólico, o sinal sacramental central da
Eucaristia. O Espírito torna actual a entrega de Cristo; ou, Cristo actualiza a
sua auto-doação da última ceia e da cruz, por meio do Espírito Santo. Por isso,
a Igreja diz as palavras de Cristo e invoca o Espírito.
Aclamação à
Anamnese. Esta aclamação foi introduzida na liturgia depois do Concílio Vaticano
II. O fundamento para esta nova aclamação foi o facto de a assembleia
participar pouco na Oração Eucarística: porque se considerou que o Diálogo
Inicial, o Santo e o Ámen da Doxologia eram insuficientes como forma de
participação, inseriu-se esta aclamação. A assembleia toma neste momento a
condução da oração, até aí e a partir daí nas mãos do presidente, e aclama,
anuncia e proclama o mistério pascal de Jesus e pede a sua vinda.
Segue-se a Anamnese
e Oblação e as Intercessões (IGMR 79e-g):
Anamnese: em
obediência a este mandato, recebido de Cristo Senhor através dos Apóstolos, a
Igreja celebra a memória do mesmo Cristo, recordando de modo particular a sua
bem-aventurada paixão, gloriosa ressurreição e ascensão aos Céus.
Oblação:
neste memorial, a Igreja, de modo especial aquela que nesse momento e nesse
lugar está reunida, oferece a Deus Pai, no Espírito Santo, a hóstia imaculada.
A Igreja deseja que os fiéis não somente ofereçam a hóstia imaculada, mas
aprendam a oferecer-se também a si mesmos e, por Cristo mediador, se esforcem
por realizar de dia para dia a unidade perfeita com Deus e entre si, até que
finalmente Deus seja tudo em todos.
Depois do
bloco Anamnese-Oblação, segue-se a segunda Epiclese: a invocação do Espírito
Santo sobre aqueles que vão comungar. Mas a esta Epiclese já se fez alusão
atrás.
Intercessões:
por elas se exprime que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda a Igreja,
tanto do Céu como da terra, e que a oblação é feita em proveito dela e de todos
os seus membros, vivos e defuntos, chamados todos a tomar parte na redenção e
salvação adquirida pelo Corpo e Sangue de Cristo. (IGMR 79g)
Doxologia e
Amen
Na Doxologia
Final resume-se toda a acção de aclamação e louvor: “a Vós, Deus Pai todo
poderoso (...) toda a honra e toda a glória”. Este Amen final é o mais
importante de toda a Missa. Com ele, a assembleia encerra o conjunto da Oração
Eucarística, manifestando de forma aclamativa a sua adesão e ratificação àquilo
que em seu nome foi proclamado. A presença deste Amen na Liturgia é já muito
antiga, como testemunhava S. Justino no século II. É curioso que, mesmo mais
tarde, quando a Oração Eucarística era feita em silêncio pelo presidente, este
pronunciava a última frase da Doxologia em voz alta para que o Amen pudesse ser
proclamado pela assembleia. S. Agostinho dizia: “O vosso Amen é a vossa
assinatura, é o vosso consentimento e o vosso compromisso”.
Quando o
presidente canta a Doxologia, facilita a resposta cantada por parte da
assembleia. Contudo, mesmo quando a Doxologia não é cantada, pode cantar-se o
Amen final, dada a sua importância própria.
Rito da
Comunhão
A celebração
eucarística é um banquete pascal. Convém, por isso, que os fiéis, devidamente
preparados, nela recebam, segundo o mandato do Senhor, o seu Corpo e Sangue
como alimento espiritual. É esta a finalidade da fracção e dos outros ritos preparatórios,
que dispõem os fiéis, de forma mais imediata, para a Comunhão (IGMR 80).
Pai-Nosso
Desde tempos
muito antigos que o Pai-Nosso tem lugar na celebração da Missa, nos ritos que
preparam a Comunhão. A escolha do Pai-Nosso para este momento deve-se ao facto
de nele se pedir “o pão nosso de cada dia”, que é também o Pão eucarístico, e
pela atitude penitencial: “perdoai-nos... não nos deixeis cair em tentação, mas
livrai-nos do mal” (IGMR 81). O embolismo (desenvolvimento desta última prece)
sublinha bem esta segunda intenção: aproximamo-nos da Comunhão com sentimento
de conversão.
O Pai-Nosso
deve ser cantado por toda a assembleia e ministros.
O presidente
introduz a oração e conclui-a com o embolismo, que termina com uma doxologia da
assembleia: “Vosso é o reino e o poder e a glória para sempre”. Esta doxologia,
muito antiga mas caída em desuso, foi recuperada pela reforma do Concílio. É
uma aclamação da assembleia que expressa assim o seu entusiasmo pela
perspectiva gloriosa do retorno triunfal de Cristo. É uma aclamação solene que
ganha em ser cantada.
Rito da paz
Quanto a
este rito, a IGMR diz: “os fiéis exprimem uns aos outros a comunhão eclesial e
a caridade mútua, antes de comungarem no Sacramento” (n.º 82). O gesto da paz é
muito antigo: era já testemunhada por S. Justino, em meados do século II. O
lugar mais primitivo e que prevaleceu em quase todas as famílias litúrgicas é
ao fim da liturgia da Palavra, depois da Oração Universal. Contudo, no Rito
Romano, pelo menos desde o século V, o gesto da paz ocupou um lugar de
preparação para a Comunhão, como acontece actualmente. Apesar da sua
antiguidade, este rito foi caindo em desuso; foi o Vaticano II veio recuperar
este gesto. A paz que aqui se pede e transmite é a paz de Cristo, que é fruto
do Espírito Santo e que manifesta o amor e a comunhão dos fiéis. Não se trata
pura e simplesmente de um gesto de amizade ou de saudação.
Na nossa
Liturgia Romana, não existe qualquer “cântico da paz”, ao contrário do que
acontece no Rito Hispânico, que prevê um cântico ritual de paz.
Fracção do
Pão e «Cordeiro de Deus»
O gesto da
Fracção do Pão tem, na Missa, um significado simbólico especial: é gesto do
próprio Cristo na última ceia; é o gesto que permite aos discípulos de Emaús
reconhecem Cristo Ressuscitado (Lc 24, 35); era a designação da Eucaristia nos
tempos apostólicos. Diz a IGMR 83: O gesto da fracção, praticado por Cristo na
última Ceia, e que serviu para designar, nos tempos apostólicos, toda a acção
eucarística, significa que os fiéis, apesar de muitos, se tornam um só Corpo,
pela Comunhão do mesmo pão da vida que é Cristo, morto e ressuscitado pela
salvação do mundo (1 Cor 10, 17). A fracção começa depois de se dar a paz e
realiza-se com a devida reverência, mas não se deve prolongar desnecessariamente
nem se lhe deve atribuir uma importância excessiva.
O cântico
que acompanha o rito da Fracção do Pão é o Cordeiro de Deus (cf. IGMR 83). Foi
o Papa Sérgio I (687-701) que introduziu este cântico na Liturgia romana.
Porém, no Oriente, já desde o século VI que se conhece o seu uso. A imagem do
Cordeiro de Deus é retirada das palavras de João baptista, no Evangelho de S.
João (Jo 1, 29.36; cf. 19, 36), e do Apocalipse (Ap 5, 6.12). A partir do
século IX-X, o rito da Fracção do Pão vai-se reduzindo progressivamente, em
virtude do uso generalizado de pão ázimo e de hóstias, que vão tornando
supérfluo o rito. É nesta época que se reduz o Cordeiro de Deus a 3 invocações,
sendo a última a súplica pela paz. Hoje, todo o esforço vai no sentido de
restituir a este cântico o sentido de acompanhar o rito da Fracção do Pão. As
invocações do Cordeiro de Deus podem repetir-se as vezes que forem necessárias,
terminando sempre com a súplica pela paz: “Dai-nos a Paz”(cf. IGMR 83).
A súplica Cordeiro
de Deus é cantada habitualmente pela schola ou por um cantor, com a
resposta de todo o povo, ou pelo menos é recitada em voz alta (IGMR 83).
Comunhão
A celebração
da Eucaristia é simultânea e inseparavelmente sacrifício em que se perpetua o
sacrifício da cruz, memorial da morte e ressurreição do Senhor, e banquete em
que participamos dos bens do sacrifício pascal de Cristo. A comunhão
eucarística deve ser vista neste contexto unitário. A comunhão é alimento
espiritual, é união com Cristo, mas é também realização da comunhão eclesial.
O sacerdote
prepara-se para receber frutuosamente o Corpo e Sangue de Cristo rezando uma
oração em silêncio. Os fiéis fazem o mesmo orando em silêncio. Depois o
sacerdote mostra aos fiéis o pão eucarístico sobre a patena ou sobre o cálice e
convida-os para o banquete de Cristo; e, juntamente com os fiéis, faz um acto
de humildade, utilizando as palavras evangélicas prescritas. (IGMR 84)
O cântico
da Comunhão é dos cânticos processionais mais antigos: era já usado no
século IV. Os Salmos eram, desde as suas origens, os textos preferidos. Com a
diminuição progressiva da participação dos fiéis na Comunhão, também este
cântico começa a perder a sua razão de ser.
Quanto à
função do Cântico da Comunhão, como cântico processional, é evidente que
acompanha um rito processional. Contudo, para além desta função que é comum a
qualquer dos cânticos processionais, tem também algumas funções que lhe são
específicas:
Enquanto o
sacerdote toma o Sacramento, dá-se início ao cântico da Comunhão, que deve
exprimir, com a unidade das vozes, a união espiritual dos comungantes,
manifestar a alegria do coração e realçar melhor o carácter «comunitário» da
procissão daqueles que vão receber a Eucaristia. O cântico prolonga-se enquanto
se ministra aos fiéis o Sacramento. Se se canta um hino depois da Comunhão, o
cântico da Comunhão deve terminar a tempo. (IGMR 86)
Aqui
encontramos explicitadas as três funções mais importantes do cântico da
Comunhão:
— Manifestar
a união espiritual dos comungantes entre si e de cada um com Cristo.
— Manifestar
a alegria do banquete eucarístico, sublinhando o carácter festivo desse
momento.
— Acompanhar
a procissão dos que vão receber o Corpo de Cristo.
Como cântico
que acompanha um rito, neste caso a Comunhão, a duração deste cântico
corresponde ao tempo que durar o rito: o cântico começa com a comunhão do
sacerdote e prolonga-se enquanto se ministra aos fiéis o Sacramento. Se se
canta um hino depois da Comunhão, o cântico da Comunhão deve terminar a tempo.
(IGMR 86)
Este cântico
Pode ser cantado ou só pela schola, ou pela schola ou por um
cantor juntamente com o povo (IGMR 87).
Depois da
Comunhão
Actualmente
o rito depois da Comunhão constitui um momento de distensão na acção
celebrativa. A celebração exige a alternância entre momentos fortes e momentos
de distensão. Assim, dada a densidade dos ritos que precedem este momento e que
exigem ser meditados e contemplados, é importante a existência deste tempo em
que o mistério da comunhão com Deus se interioriza:
Terminada a
distribuição da Comunhão, o sacerdote e os fiéis, conforme a oportunidade, oram
alguns momentos em silêncio. Se se quiser, também pode ser cantado por toda a
assembleia um salmo ou outro cântico de louvor ou um hino. (IGMR 88)
Este momento
celebrativo termina com a oração de pós-Comunhão, uma oração em que se suplica
a Deus que faça frutificar na vida o Sacramento celebrado e recebido: Para
completar a oração do povo de Deus e concluir todo o rito da Comunhão, o
sacerdote diz a oração depois da Comunhão, na qual implora os frutos do mistério
celebrado. (IGMR 89)
Rito de
conclusão
O rito de
conclusão consta de:
a) Notícias
breves, se forem necessárias;
b) Saudação e
bênção do sacerdote, a qual, em certos dias e em ocasiões especiais, é
enriquecida e amplificada com uma oração sobre o povo ou com outra fórmula mais
solene de bênção.
c) Despedida
da assembleia, feita pelo diácono ou sacerdote;
d) Beijo no
altar por parte do sacerdote e do diácono e depois inclinação profunda ao altar
por parte do sacerdote, do diácono, e dos outros ministros. (IGMR, n.º 90)
Os ritos
conclusivos da Missa são muito simples: são constituídos fundamentalmente pela
bênção e despedida da assembleia.
A IGMR não
prevê nenhum cântico para este momento ritual. A sua origem (provável) remonta
aos momentos de maior afastamento dos fiéis em relação à celebração: depois de
toda uma celebração em Latim, este era o momento em que os fiéis podiam cantar
um cântico em língua vernácula. Depois da reforma litúrgica do Vaticano II, o
costume do cântico final manteve-se.
As opções,
para este momento, são muito variadas. Não tem de ser sempre um cântico a
acompanhar a saída dos ministros e a dispersão da assembleia. Pode optar-se por
música instrumental ou pelo silêncio... O final da celebração é uma
oportunidade para a execução coral e/ou instrumental com um maior grau de
dificuldade e em que a assembleia não participe. Há aqui uma grande margem de
liberdade na escolha. Contudo, seja qual for a opção tomada para a configuração
musical deste momento, esta nunca deverá entrar em contradição com o tempo
litúrgico ou com o tema geral da celebração e deve procurar um certo equilíbrio
com os restantes momentos musicais da celebração.
[1] J.P.C.
ANTUNES, «Soli Deo Gloria». Um contributo interdisciplinar para a
fundamentação da dimensão musical da liturgia cristã, Porto 1996, 197.
[2] As citações
da IGMR aparecem no texto em Arial, com a indicação do número. Para a
configuração musical, sigo especialmente J.P.C. ANTUNES, «Soli Deo Gloria».
Um contributo interdisciplinar para a fundamentação da dimensão musical da
liturgia cristã, Porto 1996, 301-384.
[3] L. DEISS, A
Missa da comunidade cristã, EPS, Porto 1998, 21.
[4] Aqui
“prefácio” não tem sentido técnico, mas genérico: introdução, início, prólogo.
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